terça-feira, 30 de março de 2010

Prossegue a polêmica dos escândalos de pedofilia envolvendo o Papa Bento XVI


“O maior pecador da Igreja ” ou um Papa perseguido injustamente pelas denúncias de pedofilia que minam o catolicismo? A polêmica prosseguia neste sábado quanto às acusações de que Bento XVI teria acobertado vários casos de abusos sexuais de seus padres.

“Como padres (pedófilos) puderam continuar exercendo o sacerdócio e celebrando a comunhão?”, questiona o jornal britânico Independent em sua edição deste sábado.

Na Espanha, um professor de teologia, citado pelo jornal El País, se surpreende com “a facilidade com que, em relação ao IVG, a hierarquia católica estabelece uma relação direta entre pecado e delito e sua dificuldade em fazer a mesma coisa em relação aos abusos sexuais cometidos por pessoas consagradas a Deus “.

“A Igreja de Roma está vivendo, talvez, o momento mais difícil do pontificado de Bento XVI”, analisa o jornal Corriere della Sera.

“Mais a Igreja defende a transparência, mais as comportas se abrem e saem à luz casos enterrados nas catacumbas do esquecimento”, escreveu o editor Pierluigi Battista no Corriere.

Segundo uma pesquisa divulgada pela revista alemã Stern, 17% dos alemães dizem confiar na Igreja católica (contra 29% no fim de janeiro) e 24% no Papa (contra 38%).

Mas nem todos são tão generosos para com o Sumo Pontífice. “O Papa é certamente o maior pecador de toda a Igreja católica”, assevera um leitor ao jornal suíço Le Matin.

Várias vozes se levantam tanto para exigir o fim da “conspiração contra o Papa” e “uma operação verdade” sobre o funcionamento da Igreja.

Há meses, a lista dos países envolvidos nesses escândalos de padres pedófilos: Irlanda, onde as vítimas de padres ou religiosos são contados às centenas, Alemanha, Holanda, Áustria, Suíça, Espanha, Itália…

Já visado como chefe de uma Igreja que conta um bilhão de fiéis no mundo, o Papa está agora diretamente atingido. Segundo o New York Times, ele teria se recusado a punir, em 1996, um padre americano acusado de ter molestado, repetidamente, 200 crianças surdas.

O Vaticano justificou, explicando que Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, não havia sido informado senão 20 anos depois, quando o padre em questão estava velho e doente.

Na edição de sexta-feira, o jornal americano acusou Bento XVI, então arcebispo de Munique, de ter deixado um sacerdote pedófilo alemão retomar suas atividades numa paróquia, sob o risco de cometer novos abusos. O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, desmentiu.

E tudo isso certamente, ainda não acabou. “É um efeito de bola de neve, as vítimas não têm mais vergonha de falar”, estima o vaticanista Bruno Bartoloni.

“É evidente que a sensibilidade aumentou com o tempo. O fenômeno tem, hoje, uma dimensão pública, uma importância que não existia antes”, analisa Monsenhor Gianfranco Girotti, um alto dirigente do Vaticano.

Muitos destacam que a Caixa de Pandora foi aberta pelo próprio Bento XVI, quando exigiu transparência por parte da Igreja.

Enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ex-tribunal do Santo Ofício, de 1981 a 2005, Ratzinger estava em posição privilegiada para se dar conta da gravidade do fenômeno.

Será por que “viveu o drama entre a força da verdade e a pressão institucional para abafar os casos?”, como sugere Giancarlo Zizola do jornal La Repubblica ? Ou por que a pressão da mídia passou a ser muito forte, após os enormes escândalos nos Estados Unidos e na Austrália, nos anos 2000 ? Em todo o caso, ele nunca parou de denunciar estes “crimes abomináveis” e defendeu “sua total transparência”.

As últimas revelações acontecem num momento em que ele publicou, domingo, uma carta aos católicos irlandeses, qualificada até por seus detratores, de “corajosa”, onde expressava sua “vergonha” e pedia que os culpados fossem levados à justiça.

Daí o sentimento do Vaticano e dos bispos na Itália, na Grã-Bretanha e na França de que Bento XVI é vítima de um “complô”, de “difamação”, de acusações “injustas”.

Embora os ataques se concentrem sobre ele, como destaca o comentarista Zizola, Joseph Ratzinger teve durante anos como superior o Papa João Paulo II.

Mas o carismático Karol Wojtyla, com processo de beatificação em curso, possuía uma grande popularidade.

Ao contrário, o pontificado de Bento XVI, iniciado no dia 19 de abril de 2005, foi marcado por muitas polêmicas: seu passado na juventude hitlerista, suas declarações sobre as relações entre o Islã e a violência ou sobre o uso de preservativos e a Aids.

O levantamento da excomunhão de quatro bispos fundamentalistas, entre eles o negacionista Richard Williamson foi motivo de uma grande controvérsia, em janeiro de 2009. Enfim, a decisão de retomar o processo de beatificação de Pio XII, acusado de ter guardado silêncio durante o Holocausto, está longe de ter ajudado a aumentar sua popularidade.

Fonte: G1

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